O assalto e o apego ....


Eu estava em São Paulo há alguns anos, trabalhando em um showroom da marca de biquinis Lenny no hotel Fasano. Já havia me mudado para o interior e fiquei fora da cidade por quase um mês. Estava hospedada na casa de minha amiga Andréa, que também veio do interior e nossa amizade já dura muitos anos. Estava tudo maravilhoso, tinha ído até o Rio de Janeiro, tivemos uma apresentação com a equipe comercial da marca e eu estava realmente muito feliz por ter conseguido esse trabalho. Eu tenho o hábito de carregar tudo na bolsa, minhas maquiagens, cremes, perfumes e coisas de valor inestimável. É uma certa necessidade de ocasião. Na época que ganhei meu iphone, tinha realizado um sonho. Era algo que queria muito e fiquei do jeito que todas nós ficamos quando adquirimos alguma coisa material que acreditamos que vai fazer nossa vida mais feliz. Eu nesse instante me sentia assim, realizada. O Beto por medo de que se me acontecesse alguma coisa relacionado ao meu tesouro atual (o ipod) me deu um celular super bacana com muita qualidade de som, uma quantidade razoável de memória pra que eu ouvisse música na rua. Ele sabia que não me apegaria e ele porque nunca tive apego algum a aparelhos celulares. Bem, numa certa noite, voltando dos jardins para o Brooklin, desci na Av. Santo Amaro e vinha conversando no celular, nem me lembro com quem. De repente me pára na minha frente um homem gigante, com um capacete preso na cabeça mas fora do rosto e me fala; "me passa esse celular agora!". Eu aérea que só, perguntei: "o quê"? e ele repetiu. Quando me dei conta do que estava acontecendo, eu com minha bolsa gigante cheia de apegos e esforços materiais, respondi: "Não passo não, seu vagabundo". Sai correndo e gritando: "socorro, socorro"! Minha sapatilha escapou do meu pé e eu caí feito uma abóbora madura no chão. Me levantei apavorada e continuei correndo e gritando ... O ladrão deve ter ficado tão impressionado com a minha reação que saiu andando. Tinha um outro homem esperando por ele numa moto ligada, ele subiu na moto e fez um sinal com as mãos que iria dar a volta na quadra e me encontrar de novo. Não sei se o cara estava armado, não vi nada. Eu que havia morado no Brooklin por mais de 5 anos, desorientada, corri rumo a um ponto de taxi, que ficava bem próximo dali e entrei no primeiro carro que vi, tremendo mais que vara verde. Contei o episódio ao taxista e rumamos para o apartamento da Dedéia. Depois disso toda vez que ouvia uma moto ficava assustada, meu coração disparava e passei muito tempo com medo. Claro que terminei meu trabalho e voltei muito feliz para casa. Eu que sempre tive o discurso de que quando acontecesse comigo entregava tudo, porque não é correto reagir blá blá blá blá ... quando aconteceu de fato tive o apego. O apego material. Nunca imaginei que reagiria a um assalto, que enfrentaria um bandido. Mas fiz isso. Desse episódio muita coisa mudou e vem mudando com relação aos meus hábitos ... não carrego mais uma bolsa cheia de possíveis necessidades. Mas sim, ainda sou apegada as minhas coisas que nem são tantas, mas são minhas. Não sou uma mestra iluminada, por enquanto sou apenas uma pessoa buscando ser melhor para si mesma. Mas é estranho assumir em você algo que você não admira no outro. Porém ao assumir encontro a verdade e a possibilidade de mudar. Acredito haver um equilíbrio em consumir e não ser consumido e sinto muita felicidade com nossas conquistas, sejam de qualquer tamanho. Até porque estou recomeçando e o Beto começando e estamos construindo juntos. Estou vivendo muito bem, em paz e tranquila em saber que ainda tenho nessa vida muito para resolver e fazer ...

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